Yong Ya , para além de ser pequeno em tamanho (não é que tenha alguma coisa contra os pequenos, mas...), era um grande e famoso pintor devido ao facto de se inspirar facilmente, e fazia-o do seguinte modo: olhava em frente e não fazia nada mais, nada menos que deixar que a sua imaginação voasse.
A sua imaginação voava com o vento, para onde ela a levasse a imaginação passava-lhe informações que ele já habituado a comunicar com ela, traçava leves riscos num papel de papiro (nem são só os egípcios que o usam).
Logo que a sua imaginação estivesse cansada de vaguear com o vento por lugares ainda para nós desconhecidos e que só eles os dois conhecem, voltava, voltava lenta e em pezinhos de lã para que ninguém desse pla sua passagem.
Voltava, verdade é certa, mas como ia acompanhada tinha medo de voltar sozinha, então voltava com todas as cores que encontrasse pelo caminho (estando elas alegres ou tristes), e quando chegavam junto de Yong Ya, estavam cansadas, desse modo, lentamente se instalavam nas montanhas, nos rios e em todos os lugares no papiro, onde existia um esboço a preto, branco e em tons de cinzento.
Eu neste momento estou em pleno areal junto ao mar, deixo a minha imaginação voar, é por-do-sol, ela prefere ver o por do sol do que ir para as montanhas, nevadas, com cumes brancos, as montanhas dos países nórdicos, mas, com este magnífico por-do-sol á beira-mar até eu quero ficar aqui, porque motivo iria ela querer ir para lá agora se tem muitas opirtunidades dessas enquanto estou na escola?!
Voltando ao início, não estou a comparar-me pois sei que em tudo lhe fico atrás.
Anita era uma menina muito simpática, tinha cabelos compridos sempre presos em duas grossas tranças dos lados.
Anita fazia compotas de frutos e vendia nas ruas maiores e mais povoadas do bairro onde morava.
Um dia enquanto Anita fazia as compotas em casa de uma amiga, apareceu um menino que queria comer e também brincar. Bruno começou a ajudar Anita a fazer compotas e depois iam vendê-las.
O Bruno era um bocado traquina e esperto e sem Anita dar por isso, ele juntou vários tipos de fruta e ao enfrascar as compotas Anita reparou que a compota estava mais acastanhada que o costume.
Bruno disse que tinha sido ele a juntar os frutos e de seguida deu-lhe um nome muito muito original A Doçura Caramelizada . A partir desse dia Bruno ficou conhecida como O Bruno da Doçura Caramelizeda que trabalha com a Anita das Compotas.
Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!
E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!
Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!
Miguel Torga
Quando esta escrevo a Vossa Alteza
Estou com um soluço que é sinal de morte.
Morro à vista de Goa, a fortaleza
Que deixo à índia a defender-lhe a sorte.
Morro de mal com todos que servi,
Porque eu servi o rei e o povo todo.
Morro quase sem mancha, que não vi
Alma sem mancha à tona deste lodo.
De Oeste a Leste a índia fica vossa;
De Oeste a Leste o vento da traição
Sopra com força para que não possa
O rei de Portugal tê-la na mão.
Em Deus e em mim o império tem raízes
Que nem um furacão pode arrancar...
Em Deus e em mim, que temos cicatrizes
Da mesma lança que nos fez lutar.
Em mais alguém, Senhor, em mais ninguém
O meu sonho cresceu e avassalou
A semente daninha que de além
A tua mão, Senhor, lhe semeou.
Por isso a índia há de acabar em fumo
Nesses doiros paços de Lisboa;
Por isso a pátria há de perder o rumo
Das muralhas de Goa.
Por isso o Nilo há de correr no Egito
E Meca há de guardar o muçulmano
Corpo dum moiro que gerou meu grito
De cristão lusitano.
Por isso melhor é que chegue a hora
E outra vida comece neste fim...
Do que fiz não cuido agora:
A índia inteira falará por mim.
Miguel Torga
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga
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